Um Grande Monstro das Futilidades Cotidianas


O que eu quero mesmo dizer, menina, é que dói. Entende? Dói. Já doeu horrores, já doeu feito a porra de um soco nos rins, e ainda vai doer por. Sei lá? Um ano, ou dois ou três, ou talvez a vida toda. Vai doer quando você passar por aquele motel barato ou quando você passar pela vitrine daquela loja, vai doer quando alguém te perguntar sobre aquele livro ou quando você, desavisada, ouvir aquela música num bar qualquer num dia qualquer. 

Você terá engolido mais sapos do que pode suportar com ajuda de alguns milhares de calorias a mais, e você terá mesmo se olhado no espelho por uma vez ou duas, se perguntando “Mas que ínferno eu to fazendo da minha vida?” e ainda assim, menina, ainda assim, você será capaz de sorrir quando sua amiga, aquela que te irrita, mas te atura, e você a atura, e vocês se adoram, te ligar e “e aí, gata, tá afim de um bar, uma cerveja, uma pinga, uma batata frita, que seja, me diz que sim, preciso te contar do fulaninho de tal” e todo aquele caralho a quatro. E você pensa eu preciso disso, eu preciso dessa porra, eu preciso a-b-s-t-r-a-i-r, e você responde que “nada me faria mais feliz” e porra, nada seria capaz de te fazer feliz, você sabe e eu sei e então, algumas horas, calças e blusas, sapatos e quase-desistências (ah-to-tão-cansada) depois, lá está você sentada na porra de uma cadeira dobrável, na mesa nojenta de um bar qualquer, na porra de um dia qualquer, ouvindo sobre a porra de um fulaninho qualquer, quando aquela porra de música que não é uma música qualquer, toca. E todos os seus dias de sapos engolidos, as calorias transformadas em gordura, as olhadas rápidas no espelho, e todas as calças e blusas e quase desistências, tudo aquilo, vai querer sair pela sua garganta, arrancar seus olhos, se enfiar pelas suas orelhas e suas narinas, e vai querer embaraçar seu cabelo, tudo aquilo vai ser só aquilo: Um Grande Monstro das Futilidades Cotidianas. Uma massa nojenta e disforme que, logo, será você. Será você na mesa do bar, os cotovelos grudados na gosma de outros copos, os olhos ali e não ali, os ouvidos não ouvindo porra nenhum sobre o Fulaninho. E isso vai doer. Vai te doer, entende, menina? Porque essa porra dói.This little crazy thing called love dói pra burro. Para caralho. Dói até o inferno e de volta. 57 milhões de vezes. E você ama. E você ama momentos, você ama trechos, você ama refrões, você ama o auto-sacrificio da alma por outra alma. Você acredita que ama. 

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