Olhei para o teto

Olhei para o teto.

Era um dia ruim e eu tenho dias ruins com frequência, pela simples estupidez de ser tão ansiosa e ansiar que esteja/seja tudo bem, é tanta ânsia que eu acabo vomitando um monte de coisa ruim. Era um dia ruim e eu olhei para o teto. Eu poderia dizer que olhei para o teto buscando qualquer coisa em Deus, no céu e nas estrelas além daquele monte de plástico, eu poderia dizer. Na verdade, poderia até ser. Mas não. Eu olhei para o teto para não olhar na mesma direção que todo mundo olha. Tenho alergia a todo mundo. Alergia a ser confundida com todo mundo. Ta, é muito narcisismo da minha parte. Eu sabia que essa biscatinha se achava. É, bem, eu me acho. Eu me encontro. Eu me quero. E eu olhei para o teto para ver diferente. E eu vi. Vi as sombras da cidade dentro do ônibus. Vi a cidade de um jeito que talvez ninguém tenha visto. Olhado sim, com certeza. A gente ta sempre olhando tudo, não é? Mas vê. Vê é outra coisa. Só vê quem quer. Veja bem, eu quis. Eu quis ver a cidade nas sombras no teto do ônibus. E eu vi. Vi mesmo. E vocês deviam ver também. Ver como tem ritmo o que a gente não enxerga. Ver como dançam os postes e os prédios pichados. Ver como o dia ruim é só a sombra do que a gente almeja, e se o que a gente almeja é uma jaboticabeira linda para toda a vizinhança, a sombra é só para refrescar. 

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