Afundando

Vontade de não ter acordado cedo. Vontade de não ter acordado com o lençol tão arrumado, e a cama tão fria. Vontade de não viver num mundo onde o capitão é o primeiro a abandonar o navio.  
Eu sou sempre a última a abandonar o barco, sou sempre eu remando uma canoa já furada e cheia de água. Uma canoa de tábuas podres e pregos enferrujados. O barco que sou eu e o mundo. Eu e você. Eu e aquele outro. O barco sem âncora, sem bússola, sem tripulação, sem ao menos um papagaio. O barco com nome de sofredora. E no meu barco também não tem bote salva-vidas, nem colete salva-vidas, nem mesmo uma bóinha de braço da Pequena Sereia pra salvar a sua vida ou a minha. 
Eu sou sempre o capitão que afunda junto com a embarcação, que se agarra na última tábua e faz daquilo seu transatlântico. E ao chegar na praia, com a cara do Tom Hanks em Náufrago e o ríme boorrado, não tem ngm pra me ressusitar de mim. qualquer coisa.

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