Sentimentos
Lembro-me da última vez que estive aqui. Eu chorava porque doía e doía
muito. Lembro-me do peso das lágrimas e do vazio no peito. Uma figura no
espelho me mostrava a dor diante dele: As mãos na cabeça, os olhos vermelhos, o
rosto molhado e tantas dúvidas!
É horrível lembrar. Acho que este problema sempre me ocupou: Dor por
motivos miseráveis. E hoje estou aqui outra vez. A dor, o espelho refletindo-a,
o vazio, a dúvida. Só que sem lágrimas, dessa vez.
Eu paro para pensar no que eu sou. O que eu sou? Porque sou a
complicação em pessoa? Eu quero demais, eu sou muito pouco, acho que amo
demais, me arrependo de tudo o que fiz, sou contraditória demais.
Eu nunca me senti (ou posso ter me sentido) tão estranha assim.
Sentindo-me em uma chuva de flechas, fugindo delas e deixando que algumas me
acertem. E eu penso: “Não, por favor, não chore. Engula esse choro. Ande
garota, reforce essa armadura!”, sem nem ao menos saber se faz sentido.
Eu me perdi, perdi o que eu sou, o que aprendi. Costumava dizer que me
encontrava em ti. Vivendo em uma contradição, sem saber o que fazer. Sorriso
falso demais, mente livre demais, coração nas mãos..
Aprendi que os sentimentos podem nos enforcar silenciosamente. Será que
alguém pode, por favor, desfazer o nó da corda?