Assustadoramente
Seu coração não aceitava meios termos. Se estava quente, estava
fervendo; se estava frio, congelando. Era feita dos extremos. Ou escondia do
mundo, ou falava na cara. Não sabia o que era ficar em cima do muro. E também
não tinha limites. Não sabia dos limites. "Limites?", perguntava.
Virava as costas para as consequências, e nem ligava para sentimentos alheios.
Sua autoestima era assustadoramente alta, por isso (e talvez outros motivos) só
pensava nela, mas sabia bem que para conseguir o que queria precisava aparentar
qualquer interesse pela felicidade dos outros. Sendo assim, fingia ter amigos
para que estes lhe trouxessem bons frutos. Fora sempre assim: fazia amigos com
a mesma facilidade que os perdia. Claro, nem todos se afastavam, até porque as
energias que irradiavam dela era suficiente pra manter qualquer coração
aquecido. Ela era assim, facilmente impressionável. Encantadora. Impossível
seria não amá-la. Até, claro, conhecê-la a fundo. Foi por isso que a perdi. Foi
por conta de todos os erros que ela passou a cometer. Foi por conhecer alguns
de seus segredos que por muito tempo permaneceram bem escondidos. Ela não é má.
Não é isso. Ela apenas foge do que eu preciso ao meu redor. Ela apenas me
decepcionou, como pessoa, como amiga. Não estou dizendo que não podemos ter
segredos, pois quem não os tem? Eles só não precisam vir acompanhados de
mentira... De sujeira.
Apesar de tudo, se me perguntarem, não me arrependo do que vivi com ela.
Foram ótimos dias, de muita cultura e risadas. Mesmo assim, esta é a minha
decisão: me afastar. Não quero prejudicá-la, mas nem por isso preciso continuar
fingindo uma amizade que já não existe mais. Então não digam que devo dar-lhe uma
segunda chance. Assim como ela teve seus motivos para fazer o que fez, tenho os
meus para não confiar mais em qualquer palavra que saia da boca dela.